Life by Design

Ricardo Ruffo
6 min readMar 21, 2024

Moldando novas realidades através do design.

Photo by Dániel Barczikay on Unsplash

Para a grande maioria dos designers e inovadores, o conceito de design — ‘transformar condições existentes em condições preferíveis’ — , elegantemente explorado pelo Nobel Herbert Simon, é bem conhecido. Esta ideia, aparentemente simples, carrega uma profundidade de significados, especialmente quando aplicada à complexidade da vida, e é isso que quero explorar neste texto. Nos últimos 15 anos, tenho me dedicado incansavelmente ao tema de design e inovação e à forma como isso se traduz em negócios e impacto. Porém, nos últimos anos, assim como muitos profissionais, venho flertando com o tema da inteligência artificial. Percebo que, à medida que essa tecnologia se torna mais acessível, ela impactará cada vez mais minha vida e meus conhecimentos, e refletirá no que fazemos.

Existem momentos na vida em que nos encontramos em uma encruzilhada, num ‘lugar não lugar’, numa caixa escura sem visão do horizonte. A vida, complexa como é, muitas vezes nos assusta e nos paralisa quanto ao próximo passo. Para uma direção diferente ou para algo que não estávamos enxergando.

Voltando a Herbert Simon, que nos ensinou que o design é fundamentalmente sobre a criação de soluções para problemas complexos, quando esses problemas envolvem a nossa própria essência da inteligência e como produzimos e geramos valor, encontramo-nos em uma situação desafiadora. Além disso, existe uma potencial inteligência artificial que poderia ser uma extensão, ou até superior, à nossa capacidade de compreensão do mundo. As decisões que tomamos se tornam ainda mais complexas. Assim como eu, imagino que muitos executivos e c-levels estão passando pela crise de tentar entender se essa tal inteligência artificial transformará tudo e todos como estamos ouvindo.

Em uma das minhas recentes leituras, deparei-me com uma provocação fantástica de James Bridle em ‘Maneiras de Ser’, onde ele desafia a ideia de que limitamos a inteligência à capacidade humana, esquecendo-nos das infinitas possibilidades que as formas não-humanas de inteligência poderiam oferecer. Esta reflexão me levou por um caminho de exploração sobre como podemos projetar soluções criativas que transcendam nossa compreensão atual de inteligência.

Meus últimos anos de trabalho têm sido dedicados aos processos de design e inovação em empresas. Como melhor adequar situações existentes em situações preferíveis é algo que sempre me intrigou. Praticando muito desses estudos e experimentos junto a grandes empresas visionárias como Google, Faber-Castell, Itaú, Telstra, etc., mesmo me sentindo nessa encruzilhada, esta reflexão do James Bridle me levou por um caminho de exploração sobre como podemos projetar soluções criativas que transcendam nossa compreensão atual de inteligência. Imagine só, seus últimos 15 anos de trabalho e estudos sendo ameaçados por uma inteligência artificial? Tudo o que você estudou e se preparou pode de repente ser substituído por algo não humano que pode fazer tanto quanto você e um grupo de pessoas. Dá medo, né?! Mas aí que entra o design nesse processo todo! 😊

(Um parêntese importante aqui: se você não conhece o processo de design, todo desafio que enfrentamos ou oportunidade que temos de transformar ‘uma condição existente numa condição preferível’ é um processo de mergulhar no desconhecido, com técnicas e ferramentas — às vezes sem elas — para sair desse local desconhecido com possíveis hipóteses ou intuições que podemos seguir no caminho da solução, através de testes e grandes saltos de aprendizagem.)

Essa jornada de questionar a excepcionalidade humana e explorar a inteligência em suas múltiplas formas me permitiu vislumbrar o potencial de inovação no design de outras maneiras.

No meu trabalho, essa abertura para novas perspectivas revelou caminhos antes inimagináveis, mostrando como a adoção de diferentes formas de inteligência pode abrir novas fronteiras no design e na inovação. Mas, confesso, enquanto começo a entender os padrões e conexões, ainda estou naquela encruzilhada da vida, ponderando sobre por onde seguir. Tenho certeza de que você também, diante de um cenário como o meu, fica preocupado com os próximos passos.

Queria lembrar do conceito dos “setênios da vida” apresentado por Rudolf Steiner no início do século XX, uma lente única através da qual podemos observar nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Cada fase de sete anos traz consigo novos desafios e oportunidades para “redesignar” nossa existência, aprendendo com os ciclos naturais da vida e crescendo a partir deles. Me pergunto o quanto nos afastamos dos próprios ciclos naturais da vida ao tentar antecipar algumas etapas, como explorei no texto anterior “Entre a Infância Encurtada e a Longevidade Estendida”, assim como de atrasar nossa velhice e a busca pela vida eterna.

De volta ao design na minha vida

Nos últimos 15 anos, trabalhando na interseção do design e da inovação, encontrei-me frequentemente em territórios desconhecidos, enfrentando desafios que pareciam insuperáveis. Esses momentos, embora desconfortáveis, foram cruciais para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Eles me ensinaram a abraçar a incerteza e a ver cada desafio como uma oportunidade para aprender e crescer.

Adotar a filosofia de “Life by Design” não é uma tarefa fácil. Exige uma disposição para questionar o status quo, para se colocar em situações desconfortáveis e, acima de tudo, para ser intencional sobre as mudanças que desejamos ver em nossas vidas. No entanto, é exatamente essa disposição para enfrentar o desconhecido que pode transformar nossa existência de maneiras que mal podemos imaginar.

Como podemos começar a projetar nossas próprias vidas? Comece pequeno. Identifique uma área da sua vida que você gostaria de melhorar ou mudar. Em seguida, aplique princípios de design para criar uma solução. Isso pode significar desafiar suas próprias percepções, aprender uma nova habilidade ou simplesmente mudar a forma como você aborda os problemas diários.

Lembre-se de que a vida por meio do design é sobre mais do que apenas alcançar objetivos pessoais ou profissionais. É sobre cultivar uma mentalidade que abraça a mudança, o aprendizado contínuo e a capacidade de se adaptar e crescer em face dos desafios. É sobre viver de forma intencional e criar uma vida que reflita seus valores mais profundos.

Design é uma jornada contínua, não um destino. É um processo de descoberta, de experimentação e, acima de tudo, um compromisso com a evolução pessoal. É sobre abraçar nossas falhas e incertezas tanto quanto celebramos nossos sucessos e seguranças.

Em minha própria vida, essa abordagem tem sido uma bússola que me orienta através das possibilidades.

Ao me aproximar de completar meus 42 anos, um novo setênio que se inicia, descobri que a antecipação de etapas pode, de fato, distanciar-nos dos ciclos naturais que Rudolf Steiner acredita serem cruciais para nosso crescimento. Por outro lado, o design encoraja uma espécie de fluidez e resiliência, aprendendo a dançar com o tempo e as estações da vida.

Na intersecção do design e inovação, enfrentei desafios bem difíceis, seja empreendendo no Brasil ou fora dele, e com desafios de clientes altamente complexos. Nessa dança, compreendi que, apesar do medo que a inteligência artificial e as novas tecnologias possam incutir em nós, há um poder no design que nos permite moldar, e não apenas ser moldados por, essas mudanças.

Então, te convido a considerar o design não apenas como uma ferramenta de trabalho, mas como uma filosofia de vida. Pode começar com um pequeno passo, um ajuste simples, uma nova forma de ver um problema antigo. E, a partir daí, crescer para abraçar uma abordagem de vida que é tão expansiva e complexa quanto o próprio design.

Assim, à medida que projetamos nossas vidas, permitimo-nos também ser projetados pelas experiências que vivemos. É uma troca, um diálogo contínuo entre o ser e o fazer. Em última análise, “Life by Design” é um convite para todos nós sermos os designers de nossas próprias existências, para não apenas existir, mas prosperar e florescer em um mundo em constante mudança.

E enquanto me encontro nesta encruzilhada da vida, olhando para a estrada que se desdobra à minha frente, estou animado, mas com frio na barriga. Porque cada escolha que fiz, cada desafio que enfrentei e cada momento que vivenciei, serviu como um ponto de partida para o design da minha própria narrativa.

Com isso, te encorajo a pegar o lápis, a enfrentar a tela em branco do amanhã com coragem e curiosidade. Planeje, desenhe, esboce, mas esteja também preparado para adaptar-se quando a vida lhe apresentar uma nova perspectiva. “Life by Design” não é apenas sobre traçar rotas, mas também sobre ser capaz de navegar pelas águas desconhecidas com confiança e o conhecimento de que, mesmo nas reviravoltas, há beleza e aprendizado.

Que cada um de nós possa ser, simultaneamente, o designer e o design de nosso destino, descobrindo que, ao projetarmos intencionalmente nossos dias, estamos, na verdade, nos esculpindo como indivíduos e como coletivo, sempre em direção a uma existência mais autêntica e realizada.

Então, enquanto nos movemos através desta dança de criar e recriar, de definir e redefinir, vamos celebrar cada passo, cada novo desenho, pois cada um deles é uma parte vital da nossa grande obra: a vida por meio do design.

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Ricardo Ruffo

Entrepreneur, Educator & Designer. Writer and Surfer on spare time and CEO at Echos Innovation Lab