A Pandemia mostrou o lado mais vulnerável dos seres humanos.

Ricardo Ruffo
4 min readApr 16, 2020

Essa pandemia tem nos mostrado o lado mais vulnerável de nós como sociedade: a nossa ignorância. O termo ignorante tem sua origem do latim, um derivado de IGNORARE, que significa “não saber” ou “ausência do saber”.

Já reparou que o “não saber” é frequentemente mal visto em nossa sociedade? Na escola, somos medidos e organizados num modelo hierárquico que estimula sempre a buscar o primeiro lugar. Recebemos nossas notas pelos méritos individuais, somos recompensados quando sobressaímos, e ainda “punidos” quando não sabemos. Nas empresas, o “não saber” também é malquisto. O modelo mental de problema-solução é o que vigora em nossos ambientes corporativos, precisamos sempre ter as respostas para todos os problemas. O mesmo se aplica a governos.

O saber enaltece e alavanca nosso status social.

O anseio humano pelo saber é tão grande que, agora conectados à internet, todos sabemos um pouquinho de cada coisa na hora e da forma que quisermos. Os benefícios para humanidade desse acesso facilitado ao saber é infinito.

A internet democratizou o saber e o conhecimento para as esferas mais inimagináveis de nossa sociedade, potencializando a diversidade e a criatividade humana. Hoje, em segundos, uma notícia se espalha como um vírus (e vice-versa 😎), mas também já sabemos dos limites que temos quando pesquisamos algo na internet.

Claramente reconhecemos o lado positivo desse acesso, porém sabemos o lado negativo?

Já imaginou que sempre encontramos o que estamos procurando? Seja você a favor ou contra aquele tema, você sempre irá encontrar algo que sustente o seu saber, mesmo que seja mínimo. Isso chama-se viés cognitivo. A busca enviesada pelo saber não trará todas as respostas e precisamos tomar cuidado. Para muitos, que receberam uma notícia via WhatsApp, Facebook ou Instagram, ou mesmo Twitter, tomam isso como verdade e não procuram explorar a veracidade disso.

No percurso da história notamos que a ciência é sempre colocada em xeque.

No século XVII, explicar algumas coisas apenas pela intuição ou histórias misteriosas já não faziam mais sentido. Foi assim que o Iluminismo ganhou força por conta da revolução científica. O progresso até aqui foi impressionante e avançamos “iluminados” pelo saber.

Nesta pandemia atual, global e sem precedentes para acabar, a ciência é colocada em xeque novamente. No cenário onde todos sabem tudo e ninguém sabe nada, percebemos que a ciência ganha força quando estamos diante de algo perigoso, como a morte.

A certeza de uns verso o medo de outros nos mostra o quão vulneráveis somos como seremos humanos. O “não saber” é a maior vulnerabilidade humana, que permite entrarmos em uma nova lógica de organização. Um novo modelo sobre aprender e desaprender.

A abundância de conhecimento disponível em nosso planeta nos torna ignorantes.

Existem dois tipos de ignorância: a boa e ruim.

O lado ruim da ignorância como comumente usada é pejorativa. Essa ignorância negativa vem carregada de preconceito, de um único ponto de vista, de apenas uma narrativa. Esse “não saber” e se sentir confiante com o mínimo que se sabe, faz com que as pessoas se sintam ainda mais confiantes, mas também fechadas e restritas a qualquer nova descoberta. O ignorante que não quer saber é normalmente preconceituoso, racista e xenofóbico, apenas confirmando sua crença anterior. Com profunda razão à “estereotipação”.

A abundância de conhecimento disponível em nosso planeta nos tornam mais ignorantes (no bom sentido), pois ainda seguimos o mesmo comportamento humano quando não tínhamos tanta informação. Assim que nos defrontamos com algo ameaçador, trazemos nosso instinto animal e guerreiro, ou fugimos e nos acuamos. Ficando com muito medo do vem pela frente.

Poucos têm a sensibilidade de se colocar numa posição de vulnerabilidade para que possamos encontrar caminhos alternativos em direção a um novo mundo.

A vulnerabilidade é a chave para a boa ignorância.

Humanos têm a necessidade de sentir que pertencem a algo, aquele “algo maior” e que estão entrelaçados em conexões profundas. Humanos quando não se sentem conectados, não se sentem amados. Nosso maior medo é ser excluído por não fazer parte. Por isso o saber é tão importante para nós. Através do saber criamos uma falsa sensação de pertencimento. E assim não somos excluídos. O medo da desconexão é a vulnerabilidade do ser humano. Vulnerabilidade é sobre pertencimento.

Isolados em nossos espaços, sentimos que perdemos a capacidade de conexão. Não estamos sendo compreendidos. Estamos ameaçados. Com medo do que vem pela frente.

A conexão humana é o que aproxima as pessoas, o que mantêm o propósito e significado da vida vivo!

Vulnerabilidade é o nascedouro da criatividade, a essência da vida, o berço da boa ignorância.

Estamos entrando num novo capítulo da sociedade humana.

A pandemia nos mostrou o nosso lado mais vulnerável e deixamos pequenos detalhes de nossas corridas e aceleradas vidas para trás.

Deixávamos para trás aquela ligação para nossos avós, pais ou irmãos para um segundo momento. Deixávamos para trás aquele papo entre amigos, mesmo que a distância para saber como andam as coisas.

Apesar de estarmos isolados em casa, estamos percebendo o valor desses pequenos gestos e detalhes que realmente importam em nossas vidas. Aquela declaração de amor. Aquela saudade de ver a família numa mesa cheia. Aquela saudade de conversar com amigos por horas a fio. Uma saudade que só sentimos quando perdemos essas conexões (em vida ou não).

Agora estamos aprendendo o valor da vida, mesmo que um pouco tarde. Estamos entendendo que o valor da vida é superior aos negócios. Que o impacto deixado pela ganância corporativa não vale mais a pena, se não cuidarmos do nosso planeta.

Sejamos protagonistas como parte de uma única biosfera, não melhor ou pior que qualquer outro ser vivo. Apenas mais um ser consciente que entende o valor da vida.

Ricardo Ruffo

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Ricardo Ruffo

Entrepreneur, Educator & Designer. Writer and Surfer on spare time and CEO at Echos Innovation Lab